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Pancreatite: quem teve, nunca esquece.

Você já ouviu falar que só nos lembramos do pâncreas quando ele começa a dar problema? As pancreatites na realidade são um conjunto de doenças que podem chegar de forma abrupta ou progressiva, obrigando a prestar atenção nessa parte do organismo que muitas vezes passa despercebida.


MAS, AFINAL, PARA QUE SERVE O PÂNCREAS?

O pâncreas é uma glândula situada na parte superior do abdômen e que possui duas funções principais: produzir enzimas que auxiliam na digestão de gorduras e proteínas (chamada de função “exócrina” ou digestiva), e produzir hormônios que regulam a metabolização da glicose, em especial a insulina e o glucagon (função “endócrina” ou “hormonal”). Quando ocorre uma inflamação nessa glândula chamamos de pancreatite. Conforme o tempo de instalação e evolução, essa condição pode se apresentar em duas formas: aguda e crônica.


PANCREATITE AGUDA

A pancreatite aguda pode ser classificada em duas principais formas: biliar e não-biliar. A primeira é aquela causada pela obstrução dos ductos pancreáticos, fazendo com que o pâncreas não consiga liberar as enzimas digestivas normalmente para o duodeno, parte inicial do intestino. Esse acúmulo de líquido digestivo faz com que haja uma ativação destas enzimas ainda dentro do pâncreas, provocando uma inflamação intensa na glândula. As principais causas de obstrução na drenagem destas secreções são a migração de pequenos cálculos da vesícula e demais vias biliares, que podem entupir a saída do ducto pancreático principal. Outras causas menos comuns de obstrução dos ductos do pâncreas são estreitamentos (chamados de “estenoses”), tumores e até mesmo alguns parasitas intestinais.


De longe os cálculos biliares são a causa mais comum de pancreatite. Eles não costumam apresentar sintomas, sendo descobertos apenas acidentalmente caso o paciente passe por um check-up, mas também podem se manifestar com inflamação aguda da vesícula chamada “colecistite aguda”. Havendo diagnóstico de cálculos na vesícula ou até mesmo colecistite, muitas vezes é indicada cirurgia de remoção cirúrgica da vesícula biliar para se evitar inclusive pancreatite aguda.


A segunda forma de pancreatite, chamada de “não biliar” apresenta diversas causas possíveis, pois são vários os “agressores” que podem resultar em lesão e inflamação no pâncreas. Uso abusivo de álcool (especialmente grandes quantidades em pouco tempo, como numa “bebedeira” ou festa) é a principal causa de pancreatite aguda. Outras causas menos frequentes são traumas de alto impacto no abdômen, hipertrigliceridemia (alta taxa de gordura no sangue), o uso de determinados medicamentos (diuréticos, anticonvulsivantes e imunossupressores), picada de escorpião (cujo veneno é potencialmente muito tóxico) e até mesmo o abuso de chás, ervas, “garrafadas” e outros medicamentos ditos “naturais”.


PANCREATITE CRÔNICA

A pancreatite crônica é aquela em que a inflamação fica persistente, causada principalmente por episódios repetidos de pancreatite aguda. Por este motivo, está ligada ao uso abusivo de álcool por muito tempo, causando a atrofia do pâncreas. Nessa forma não existe cura, apenas a redução das complicações como diabetes e da desnutrição crônica causada pela incapacidade de digerir os alimentos.


SINTOMAS

Os sintomas da doença variam de acordo com a forma como ela se apresenta. Dor intensa na parte superior do abdômen, náuseas, vômitos e inapetência de instalação rápida (poucas horas ou dias) são sintomas comuns da pancreatite aguda. Na forma crônica essa dor pode ser mais prolongada e de menor duração, mas normalmente são observados episódios recorrentes de pancreatite aguda.

Em resumo, os principais sinais e sintomas dos dois tipos de pancreatite são como segue:

● Forma aguda: náuseas, vômitos, dor abdominal nos quadrante superiores do abdômen; icterícia (“amarelão”) da pele e dos olhos pode acompanhar naquela de origem biliar;

● Forma crônica: diarreia crônica, perda de peso, diabetes.


DIAGNÓSTICO

A pancreatite aguda pode se tornar grave e com uma taxa de mortalidade alta, por isso é necessário que o paciente seja diagnosticado da forma correta e com rapidez.


O diagnóstico é feito através de exame clínico e com o auxílio de exames de sangue e de imagem que confirmam tanto o diagnóstico de lesão do pâncreas quanto da causa da pancreatite. O início precoce do tratamento é fundamental para a cura ou o controle da doença.


Na pancreatite crônica os principais achados laboratoriais são evidência de diabetes (por deficiência na produção de insulina), além de alteração nas concentrações sanguíneas de proteínas, lipídios e vitaminas. Exames de fezes também podem indicar a diminuição da concentração de enzimas digestivas do pâncreas, assim como um padrão de diarreia disabsortivo.


TRATAMENTO E COMPLICAÇÕES

O tratamento da pancreatite aguda requer internação hospitalar e é baseado em 4 pilares: interromper a causa da pancreatite; repouso e jejum para reduzir o “trabalho” do pâncreas; hidratação endovenosa e analgésicos para a dor. É necessário tempo para que estas medidas façam efeito, pois até o pâncreas “desinflamar” podem ser necessários alguns dias ou até semanas.


Existem chances de a doença evoluir para uma forma grave começando a lesionar outros órgãos além do pâncreas – um processo chamado “síndrome sistêmica da resposta inflamatória” ou “SIRS” (na sigla em inglês. Nesse caso o paciente entra em choque e há a necessidade de tratamento em unidade de terapia intensiva para manejo destas complicações. Nos casos muito graves também pode haver a necrose do pâncreas, formando-se abscessos cujo tratamento muitas vezes necessita drenagem ou até mesmo cirurgia.


Na forma crônica o tratamento é direcionado nas complicações da insuficiência pancreática. Reposição de insulina via injetável e de cápsulas via oral contendo enzimas pancreáticas (lipase, amilase e protease) antes de cada refeição para auxiliar na digestão e combater a desnutrição, além de reposição de vitaminas e alguns oligoelementos.


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